Eyecon desenvolve aplicações para monitorização do nível de ribeiras e para estacionamentos nos Açores

O que faz exactamente a Eyecon e quantas pessoas estão ligadas à empresa?
Neste momento contamos com a colaboração de 8 pessoas. A nossa empresa dedica-se basicamente ao tratamento de dados, em transformar dados que são obtidos através de sensores e transformar isso em informação útil para os utilizadores. Utilizamos sensores que já existem e que estão por exemplo nos satélites, e que nos permitem dar dados sobre formação de solo, de edifícios ou dados relativos ao índice de vegetação. Também utilizamos outros sensores que instalamos e que nos permitem desenvolver soluções para smart citys ou soluções como aquela que estamos a desenvolver para o Município de Angra; de controlo do fluxo das ribeiras. Uma gestão do ciclo hidrológico no concelho de Angra em que vamos montar estações meteorológicas e sensores que medem a altura da água para cálculo do seu fluxo em vários pontos e que depois permite dar o alerta para eventuais obstruções ou risco de inundações.

Quando é que essa aplicação estará operacional?
Contamos ter isso operacional dentro do prazo que nos comprometemos e temos agora 6 meses para desenvolver esta aplicação. Estamos também a desenvolver outra aplicação, em parceria com a Agência Espacial Europeia, em que desenvolvemos um algoritmo para identificar e alertar para o risco ou para a susceptibilidade de derrocadas entre outros aspectos. Este é um algoritmo que vai buscar dados a várias fontes, sejam fixas ou dinâmicas, como os satélites e ainda a precipitação. Este é um dado importante. Podem ser sensores de estações meteorológicas ou um serviço de dados meteorológicos. Isso permite-nos desenvolver uma aplicação, uma ferramenta que tem diversas aplicações sendo que, temos parceiros como a protecção civil a nível regional e também municipal. Por outro lado permite também planear melhor a construção de uma estrada, sabendo o tipo de solos, qual o custo de obra ou ainda para a própria manutenção das estradas. Permite ver e monitorizar a deformação nos taludes e o índice de prestação desses mesmos taludes. É um projecto ambicioso e temos um prazo muito curto para o concretizar. Tem de estar pronto em Junho deste ano. Conta com a colaboração de peritos internacionais nesta área que estão em Espanha e na Grécia.

Esta aplicação de prevenção dos desabamentos de terra é muito importante para uma região que, como sabemos, passa ciclicamente por estes problemas.
Os Açores são para nós um laboratório perfeito para o desenvolvimento de aplicações desta natureza e por isso é que propusemos à ESA (European Space Agency) este projecto. Tem interesse também para várias entidades aqui nos Açores. Não apenas para a Protecção Civil, mas também para o próprio Air Center que é stakeholder (accionista ou investidor) deste projecto. Temos aqui à nossa disponibilidade um excelente laboratório para aplicações desta natureza.

No seu caso, o que o levou a regressar à região?
Uma questão familiar e também a perfeita noção de que, no mundo em que vivemos, a vantagem da nossa localização. Os Açores são um sítio excelente para viver e para o desenvolvimento deste tipo de negócios. Estamos a 4 horas da costa leste dos Estados Unidos da América e a 2 horas da Península Ibérica. Nos Açores não estamos numa periferia, estamos de facto no centro do mundo.

Os Açores deviam apostar mais no impulso e no chamamento de empresas deste género?
Penso que a região já está a apoiar bastante este tipo de empresas. É certo que muitas candidaturas estão direccionadas para tudo o que é turismo, agricultura ou mar, mas, de facto, considero que a região já apoia bastante nesta área.

Que projectos pensam desenvolver este ano?
O ano de 2021 vai ser um ano complicado para nós porque temos vários projectos em carteira que temos de executar. Este da detecção de derrocadas tem de estar pronto em Junho e não termina aí. A aplicação fica disponível nessa data mas depois temos de fazer todo um esforço de desenvolvimento de vendas e de promoção desta aplicação que queremos que seja utilizada por outros países e por outras entidades a nível internacional. Isso obriga, para além da vertente de desenvolvimento, também à angariação de novos clientes. No caso do projecto de monitorização do ciclo hidrológico das ribeiras também vai acontecer o mesmo. Estamos a desenvolvê-lo para o município de Angra do Heroísmo mas evidentemente teremos todo o interesse em expandir esta solução para outros municípios da região, nomeadamente para São Miguel que também tem bastantes problemas com a água. Para além destes, temos também outro projecto até Junho que é o desenvolvimento de um sistema de estacionamento inteligente, igualmente para o Município de Angra do Heroísmo. Este vai ser um ano de concretização de projectos que serão apresentados e que estão a ser trabalhados há já algum tempo.

Este último projecto, o do estacionamento inteligente, como funcionará? Pode explicar melhor?
Queremos ajudar as pessoas a estacionar o carro em centros históricos. Muitas vezes perdemos bastante tempo a encontrar uma rua com lugar de estacionamento. Esta aplicação permitirá dar uma indicação à entrada da cidade de quais as ruas que têm espaços para estacionar. Não haverá a colocação de sensores por espaço e por local como temos nos parques dos centros comerciais, por exemplo. Tem de ser através de um sistema de monitorização de tráfego por rua e por cálculo, através de um algoritmo, de possibilidade de estacionar. Será quase como um ‘boca a boca’: vá por esta rua que quase de certeza encontrará um lugar para estacionar. É uma solução que sai mais em conta do que colocar sensores por cada lugar de estacionamento, porque isso encareceria bastante o projecto. É certo que desenvolveremos também uma aplicação móvel para o telemóvel. Esta solução permite também a diminuição de emissão de dióxido de carbono pelo tempo que muitas vezes se demora a estacionar nos centros históricos. É algo que traz várias vantagens.

Há a possibilidade de a expandir para outras cidades?
Sim, para todas as cidades que tenham o mesmo problema que nos foi apresentado. Obviamente que se houver interesse de qualquer cidade em ter este sistema estamos abertos a conversação. Promoveremos esta aplicação noutras cidades, não só em Portugal, como também no estrangeiro.  

Algum outro projecto futuro que queiram concretizar aqui nos Açores?
Estamos a desenvolver investigação numa área que nos interessa particularmente; a detecção remota de algas invasoras no oceano. O objectivo passa por facilitar às entidades ambientais nacionais ou regionais, o acesso a uma ferramenta que lhes permita, em tempo real, poder monitorizar zonas que tenham algas invasoras. É um projecto bastante ambicioso em que estamos ainda a investigar a vertente dos algoritmos para a detecção de algas. Se formos bem sucedidos, como esperamos, passamos depois para o seu desenvolvimento, com a angariação de stakeholders (accionistas ou investidores).

 Texto: Luís Lobão

Foto: Correio dos Açores