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Artigo do "Correio dos Açores": TERINOV incentiva o regresso de jovens com altas competências aos Açores

Notícia 7

Artigo do "Correio dos Açores": TERINOV incentiva o regresso de jovens com altas competências aos Açores

Comecemos pela história do TERINOV e por saber quantas empresas estão sediadas e quantas pessoas trabalham nas vossas instalações?
Podemos dizer que o TERINOV, naquilo que foi o seu arranque de actividade, está com sensivelmente 16 meses. A primeira empresa entrou a 29 de Julho de 2019. Neste momento acomoda 47 projectos, sendo que 5 deles são de entidades científicas. Dessas estão por exemplo, a ACDA (Associação para a Ciência e Desenvolvimento dos Açores). O Air Center estará em breve e a operação já está montada. Está também o CBA (Centro de Tecnologia da Universidade dos Açores) e mais recentemente também o IITAA (Instituto de Investigação em Tecnologia Agrária e Alimentar). Do ponto de vista empresarial estamos a falar de 42 projectos desde a incubação até ao desenvolvimento empresarial. Estamos a falar de projectos que, alguns deles, ainda procuram a captação dos primeiros investimentos para que possam ver a luz do dia. Por outro lado, temos aqui também projectos e empresas que já facturam qualquer coisa como 15 milhões de euros. Este é um pouco o espectro da nossa actuação que representa qualquer coisa como 162 postos de trabalho altamente qualificados. 

O TERINOV tem capacidade para albergar quantas empresas e projectos?
Neste momento já excedemos a nossa capacidade. Efectivamente houve a necessidade de dar uma nova organização ao TERINOV. Num primeiro momento estavam pensados sensivelmente 15 espaços físicos de incubação, porque também temos modalidades de pré-incubação e incubação virtual. A procura foi de tal ordem que tivemos de fazer uma realocação de espaços e tivemos de passar alguns desses equipamentos das indústrias culturais e recreativas, para um corpo que temos só de laboratórios. Trata-se de laboratórios para prototipagem ou de pós-produção em vídeo e imagem e conseguimos ganhar mais 6 novas salas. Neste momento, e ao longo destes 16 meses, já houve a necessidade de rearranjar os espaços para quer possamos dar resposta à procura. A procura tem sido intensiva e neste momento, de um ponto de vista físico, estamos com 100% de ocupação. Já não conseguimos acolher projectos e empresas que se queiram juntar fisicamente. Conseguimos acolher nestas modalidades de incubação ou de desenvolvimento empresarial virtual. Para estas modalidades não há propriamente um limite. Não queremos deixar de fora ninguém. Do ponto de vista físico a capacidade está completamente lotada, mas do ponto de vista dos projectos que se queiram desenvolver, as nossas portas estarão sempre abertas.

É necessário expandir a estrutura física do TERINOV…
Penso que para já precisamos ainda de consolidar a nossa operação. O TERINOV divide-se em duas grandes componentes. Uma componente de apoio a projectos e empresas de base tecnológica e científica mas, por outro lado, temos uma outra componente muito interessante e que se tem vindo a consolidar que passa por sermos um agente de investigação e desenvolvimento que promova a ciência e o desenvolvimento tecnológico. Essa é uma componente do parque que ainda poderá crescer mais. O TERINOV no âmbito dos programas do PO (Programa Operacional) Açores, já participa em 4 projectos de investigação e de desenvolvimento em contexto empresarial, nomeadamente com a UNICOL, a UNILEITE ou com a Associação Agrícola da Ilha Terceira. Se olhássemos especificamente para a componente de incubação e desenvolvimento empresarial diria que é preciso consolidar este eco sistema mantendo os pés bem assentes na terra antes de avançarmos para a expansão da infra-estrutura. No entanto, a própria expansão e respondendo à sua pergunta, já começa a estar mapeada. O TERINOV tem, na sua área envolvente, um conjunto de terrenos anexos que fazem parte do parque e, neste momento, já existe uma parcela identificada para a possível ampliação do parque.
 
Essas duas componentes são áreas com muito potencial de expansão nos Açores?
Sim. Temos sentido essa ideia. Temos sentido que infra-estruturas como o TERINOV, como o NONAGON e outras que poderão aparecer no futuro, ajudam a que voltem um conjunto de talentos à ilha. Vemos, através das equipas do Air Center ou de outros projectos de natureza mais empresarial, que há uma vontade regressar. No fim de contas uma das grandes missões do TERINOV é criar objectivamente um cluster de massa crítica na região. Felizmente isso tem vindo a acontecer. Naturalmente que não conseguimos fazer isto isoladamente, temos tido esta ligação próxima com a Universidade dos Açores e com o Air Center que, de alguma forma, vai despoletando e ajudando nisso. São áreas em franco crescimento, com muito potencial e penso que temos aqui uma nova geração de empresários, de empreendedores mas também de agentes do sistema científico que percebem a necessidade que temos em investigação aplicada. Ou seja, investigação que se produz no contexto laboratorial e académico mas que depois tenha uma efectiva transferência para o tecido empresarial. O melhor exemplo que podemos ter desta nova visão e abordagem de empreendedorismo de base tecnológica e científica é a procura por parte de alguns parceiros, alguns deles até não instalados no TERINOV, nomeadamente a UNILEITE ou a UNICOL, deste ecossistema para pegar naquilo que a ciência tem feito para melhorar os seus produtos. 

Pensa que é possível fazer regressar essa massa crítica açoriana com o aparecimento destas estruturas?
Acho que sim e exemplo pragmático disso é o meu. Se me perguntassem há 4 ou 5 anos se eu regressaria aos Açores a resposta seria não. Era professor universitário, fazia investigação, estava em Lisboa há já muitos anos e a minha vida passava por lá. Estas infra-estruturas com gente capaz, mas também nova à sua frente, fazem todo o sentido nesse desbloqueio da decisão de regressar aos Açores, já com competências e conhecimento de mundo. Isso é fundamental. Há também outra variável que se junta a esta equação que tem a ver com as questões que este contexto pandémico trouxe. Tem-nos procurado muita gente aqui da Terceira, nomeadamente para o espaço de co-work, que trabalham na Alemanha, Espanha ou Itália e como voltaram a casa pela questão do Covid, percebem que estes são também contextos onde eles podem crescer e desenvolver projectos paralelos. As estruturas e a qualidade de vida existem nos Açores e começa a haver aqui, bolsas de massa crítica que permitem, a essas pessoas, terem um conjunto de projectos paralelos. O TERINOV vai tendo este papel, ocupando esse espaço e a prova disso é que, em 16 meses, temos 162 pessoas diariamente que representam muito do que é esta dinâmica. Naturalmente que este é um projecto jovem e que ainda tem muitas provas para dar, mas penso também que tem um enorme potencial. 

Estes projectos são o futuro dos Açores?    
Considero que os Açores têm todas as condições para serem uma economia do conhecimento. Temos uma componente muito interessante, até por sermos uma região arquipelágica e por em algumas áreas termos grandes diferenças do ponto de vista daquilo que é a organização de território. Isto tem a ver com a questão dos laboratórios vivos e no final de contas, temos a oportunidade de testar um conjunto de experiências ou de conceitos que não poderíamos testar em grandes cidades, porque as distâncias e os constrangimentos são outros. Este conceito de laboratório vivo é algo que os Açores têm de agarrar. Naturalmente que a isso acresce a necessidade de estarmos na linha da frente do ponto de vista de acesso a tecnologias de informação e comunicação. Outra das vantagens da economia do conhecimento é que não existe barreiras à exportação. 

Que balanço faz de 2020?
Foi um ano com desafios muito reais. Vivemos uma situação que nenhum de nós tinha experienciado antes. No TERINOV não existiram propriamente projectos que se tenham extinguido em consequência da pandemia. Houve sim um grande reajuste e no nosso contexto mais empresarial, tiveram também de se reinventar, não só do ponto de vista da organização interna e da estrutura do trabalho, mas também do ponto de vista dos serviços que prestavam. Muitos deles acabaram por dar mais enfoque às questões da digitalização. Outros aproveitaram este período para preparem os próprios projectos de investigação que tinham parado. Até ao inicio do ano felizmente existia um crescimento brutal da economia e da procura de serviços, existindo um conjunto de projectos que podem ser estratégicos para o desenvolvimento das empresas e das entidades e que tinham ficado um pouco na gaveta. Este ano deu espaço a que esses projectos possam ter ressurgido. Houve desafios, necessidade de adaptar, foi manifestada uma grade resiliência por parte de todos os agentes e naturalmente que temos um ano de 2021 pela frente em que os problemas não vão desaparecer da noite para o dia, mas penso que se ganhou aqui alguma bagagem e que se desenvolveram algumas competências para olhar para o próximo ano com esperança.

Que perspectivas e novos projectos tem o TERINOV para 2021?   
Queremos acima de tudo consolidar o ecossistema que temos. As perspectivas já não são propriamente de um crescimento exponencial como até aqui. Já temos um conjunto de 47 entidades, entre empresas e projectos, que contam com o nosso apoio e temos a missão de os continuar a apoiar. Mas também temos a missão de, por um lado, voltar a dar fôlego a alguns projectos que tinham ficado parados em 2020, nomeadamente um muito interessante que temos em que o TERINOV é o ponto de contacto nacional. Tem a ver com o envio de estudantes açorianos de licenciatura, mestrado e doutoramento para a Universidade UMASS, em Lowel. Esse projecto de intercâmbio era para ter tido a sua primeira edição em Junho deste ano mas com o Covid não foi possível. Temos todo o interesse de retomar e de fazer esta primeira edição em Junho de 2021. Estamos a falar de um projecto que envolve o UMASS, o TERINOV e onde também há uma componente próxima do Governo Regional e da Fundação Ciência e Tecnologia. Também temos um mecenas, um patrocinador, a CEP Family Foundation que garante tudo aquilo que são os custos de deslocação de 5 a 6 estudantes açorianos. Em 2020 estava já tudo preparado, inclusivamente com os alunos seleccionados, só faltava mesmo apanhar o avião. Para além disso teremos, naquela que é uma área estratégica do TERINOV, o lançamento da primeira aceleradora de empresas para a indústria agro-alimentar. O convite para que projectos venham fazer essa aceleração connosco sairá durante o primeiro trimestre de 2021. É uma iniciativa que temos em conjunto com a BGI e que replica de alguma forma um programa que eles têm em Idanha-a-Nova que tem corrido muito bem. Queremos também voltar a ter a segunda edição do Hack2Emerge que é um hackthon para causas sociais que temos em parceria com a Fundação Calouste Gulbeikan. E depois temos um conjunto de desafios do ponto de vista de infra-estruturas. Um deles parece-me muito interessante e passa pela preparação e instalação de um laboratório de inovação em produtos lácteos. Este laboratório será co-gerido com o IITAA, mas estará, naturalmente, disponível para apoiar o tecido empresarial do sector. 

Como gostaria que estivesse o TERINOV daqui a 5 ou 10 anos?
Acima de tudo gostaria que o TERINOV desempenhasse um papel muito activo e credível nas dinâmicas de desenvolvimento e investigação nos Açores. O TERINOV deve continuar com as suas dimensões de incubação e desenvolvimento empresarial, mas acima de tudo, continuar e aumentar as empresas de base tecnológica e científica. Por outro lado, tem de começar a ter uma maior presença fora da região. Já começamos a trabalhar isso com o programa com o UMASS e vamos ter também um programa com o Fraunhofer, da Alemanha, que é o maior instituto de investigação aplicada do mundo. Já há conversações nesse sentido e gostaríamos de ter um posicionamento mais internacional. Esta geração de açorianos e os novos projectos que existem na região já fizeram cair aquela ideia de que, por sermos pequeninos, não podemos estar no contexto mundial. Estamos aqui para jogar de igual para igual com as referências mundiais. Gostava que pudéssemos acolher mais entidades científicas, dobrando o número das 5 já existentes e que o TERINOV se possa expandir e continuar a trabalhar em prol do desenvolvimento dos Açores.

Duarte Pimentel, Diretor Executivo do TERINOV

 

Texto: Luís Lobão 

Artigo: Correio dos Açores 

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